De onde poderá a imaginação extrair a substância com a qual tecerá seus sonhos senão do tesouro da memória, repleto de observações vivas, das impressões dos fatos, das abstrações de cor e forma, de princípios de todo tipo? Quem poderá negar que é unicamente graças à memória que podemos fixar os efeitos fugidios da luz, desenhar os movimentos, fisionomias, os céus, os animais, as crianças - a vida, enfim? E, já que se admite a necessidade da memória, por que não seria permitido cultivá-la? No ensino literário e científico, cultiva-se a memória por meio de lições decoradas. Igualmente, é através de uma série gradativa de formas que se deve desenvolver a memória das formas. É essa lamentável lacuna no ensino que procuro preencher por meio de um método para o desenvolvimento da memória visual. Horace Lecoq de Boisbaudran nasceu em Paris em 1802; faleceu, aos 95 anos, a 7 de agosto de 1897. Aceito na Escola de Belas-Artes em 1819, expôs no salão de 1831 a 1844; desta data em diante parou de produzir para ensinar. Iniciou em 1844 como professor adjunto na Escola Real e Especial de Desenho em Paris. Em 1847 tornou-se professor de desenho na sucursal da Legião de Honra na Rue Barbette, onde começou a aplicar seu método de educação damemória visual. Em 1851, apresentou os resultados na Academia de Belas-Artes e, em 1856, à Sociedade de Incentivo à Indústria Nacional, e delas recebeu aprovação. Só em 1863 obteve a permissão para abrir, na Escola de Artes Decorativas, um ateliê para o desenho de memória. Quando poderia aplicar integralmente o seu método, os professores de então, adversários declarados de suas idéias, orquestraram uma oposição implacável. Continuou a lecionar por mais um ano no Liceu Louis-le-Grand para então se retirar completamente. Bom músico, pianista e violinista, e dono de uma bela voz de ópera, Boisbaudran foi mestre de muitos artistas célebres, entre os quais Auguste Rodin.