A herança psíquica é um elemento chave a ser analisado na contemporaneidade. A inscrição do sujeito em uma cadeia genealógica é uma importante base de compreensão e análise das causalidades psicopatológicas. As possibilidades de transformação, metabolização e apropriação do conteúdo ancestral transmitido podem resultar nas patologias da herança e da transmissão e se apresentam como contraponto fundamental à perspectiva biologizante. Ao mesmo tempo em que a herança é matéria nobre para a constituição da subjetividade, ela também possui potencial mórbido cuja magnitude pode chegar a inviabilizar a existência psíquica do sujeito e de sua descendência. Os efeitos da herança psíquica podem ser devastadores e variados quando transmitidos transgeracionalmente, guardando expressivo potencial patológico. Pensar a herança psíquica e a transmissão entre gerações abre caminho para reflexões teóricas a respeito de como somos constituídos e como são constituídas as patologias psíquicas. Essa articulação traz subsídios ainda para investigarmos a herança cultural e os efeitos do recalcamento em questões coletivas, as quais retornam e se repetem sob aspectos diferenciados, muitas vezes despercebidos. A importância do tema tem sido reconhecida recentemente no que se refere à psicanálise, embora esteja presente desde os primórdios do pensamento freudiano. A articulação entre os campos da Psicanálise, da Psicopatologia e do Direito é crucial para a promoção da Saúde Mental. A análise interdisciplinar contribui para a construção de estratégias a partir de ações territoriais, colaborativas e intersetoriais que incluem as peculiaridades culturais e os determinantes sociais de saúde, envolvendo a construção dos laços afetivos-parentais e as práticas de cuidado.