Certo dia, Alexandre estava fazendo hora extra no almoxarifado do Centro de Saúde, como fazia cotidianamente, apesar de não receber adicionais por isso, diferentemente de outros funcionários não-concursados que recebiam inúmeras horas extras sem sequer cumpri-las. Calmamente terminava de carimbar as últimas notas fiscais de aquisição de compressas de gazes e papel para impressão.(.)No momento em que ele terminava de carimbar os documentos, ouvia e cantarolava Raul Seixas - "Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, se quiser voar! Pra Lua, a taxa é alta, pro Sol: identidade, mas já pro seu foguete viajar pelo Universo é preciso meu carimbo dando sim, sim, sim, sim!" - nas caixinhas de som do computador, algo que não ocorria há 26 mil anos, tornou a ocorrer. Em uma atípica ordenação dos astros e dos pensamentos dos humanos, calhou de condensar na mente de Alexandre, uma poderosa psique paranormal. Quando olhou pela janela e viu o pôr do sol, abateu sobre ele, como que um relâmpago invisível aos olhos, o mais fulminante dos pensamentos, e, no exato momento em que batia o último carimbo, algo de surreal se passava despercebidamente. A princípio, pensou ter se tratado de alguma espécie de choque que levara sem ver, talvez seu celular no bolso, ou talvez teria encostado em algum fio sem perceber, mas, enfim, para ele, aquele evento não seria nada de incrível.