Este livro se instrui e se inspira na psicanálise para descrever, compreender e apresentar formas de intervenção que possam aliviar as dores psíquicas do cotidiano brasileiro. É um livro corajoso, pois os textos produzidos pelos autores se aproximamsem medo e sem lentes fantasiosas das principais fontes de sofrimento humano já apontadas por Freud no início do século passado, fontes estas ligadas às impotências vividas por nós diante da finitude da vida, das catástrofes provocadas pelas forças da natureza e, a que para ele para ele é mais dolorosa, que é aquela sofrida nas relações interpessoais, passando pelas dores da intimidade maltratada e caminhando para as perversidades institucionais. A psicanálise, desde seu nascedouro, traz para dentro de si o reconhecimento da subjetividade de quem está em sofrimento. Traz para dentro de si o valor da fala sobre este sofrimento e toma como responsabilidade a escuta que ajuda a dar significado para a dor e força para continuar vinculado com arealidade, por mais dolorosa e empobrecida que ela continue sendo. Ao tratar de forma sublimada, por meio da criação intelectual dos fenômenos atuais que assolam a vida dos povos que aqui vivem, os capítulos dão corpo e sentido, e trazem alento ao sofrimento próprio do tempo atual brasileiro. É sobre o Brasil do século XXI, sobre os brasileiros que vêm adoecendo, que perderam a referência do real e que foram gerando sintomas individuais e sociais enormes, mas também é um livro que mostra que este mesmo povo encontrou - às custas de seus lados saudáveis escondidos - saídas honrosas, inteligentes e criativas, como as reflexões que podemos fazer a partir da leitura dos autores do livro. Berenice Carpigiani Professora Titular do Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie