"A harmonia, em sua essência, vai além da música, refletindo a ordem divina - a tranquilitas ordinis de que falava Santo Agostinho. Para os antigos e seus sucessores cristãos, essa ordem universal era regida pelo Amor, que unia a Criação em uma existência simultaneamente matemática e musical. Conceitos como "amor", "ordem divina", "música" e "matemática" convergiam para expressar uma mesma realidade cósmica. A harmonia, assim, se manifestava tanto na "música das esferas" quanto na alma bem-ordenada e no Estado politicamente bem-estruturado".Em A ascensão de Dionísio, E. Michael Jones analisa o projeto de destruição da tradição musical do Ocidente, a começar por figuras como Richard Wagner e Friedrich Nietzsche, com sua "arte revolucionária" e a "transvaloração de todos os valores". Com o abandono de toda racionalidade em prol de uma cultura dionisíaca, mestre e ex-pupilo, porém, não foram capazes de formar uma escola duradoura, limitando-se a dar sobrevida a um movimento revolucionário decadente. Daí a uma Europa exausta e hiperintelectualizada ter cedido às novas influências americanas ainda sob os escombros da Primeira Guerra: a "dodecacofonia" de Schönberg e um novo pacto - mais simpático entre as partes, é verdade, mas tão venéreo quanto o de Nietzsche -, marcarão o auge do empreendimento para destruir "a ordem de coisas".Com o nascimento do rock e a revolução de 68, Jones por fim aborda os elementos ocultistas e satanistas da cultura contemporânea, que, tendo abandonado os pressupostos partilhados por todas as épocas, não pode ser considerada herdeira sua, mas o subproduto de projetos revolucionários fadados fracasso em função de sua revolta contra a ordem da Criação.