A espécie que sabe, best-seller da poeta e filósofa Viviane Mosé, retorna à Civilização Brasileira em nova edição com texto inédito da autora que pensa a filosofia de modo acessível e poético. Ao apostar na autonomia da razão, da ciência e da técnica, o sujeito moderno acreditou que conseguiria construir um mundo melhor do que aquele que lhe era oferecido pela natureza. Corrigir a natureza, no entanto, acabou por significar uma tentativa de corrigir a própria existência, pois não há como separarmo-nos da natureza, da qual somos parte e que nos constitui. Nessa tentativa, o ser humano acabou por provocar uma dissociação ainda maior entre alma e corpo. No seu próprio corpo e no corpo da natureza, por conseguinte, se fizeram ver reações adversas e efeitos colaterais da razão ao longo de todo o século XX: na natureza, catástrofes ecológicas; entre países, guerras; nas relações sociais, bestialidades; para o corpo humano, em vez de mais alegria e potência, mais depressão e o boom observado na indústria dos psicofármacos.Neste belo ensaio, Viviane Mosé nos mostra que o mundo não acabou; acabou apenas um certo ideal de mundo. Diante das pretensões que ruíram sob nossos pés, ela pergunta: que valores queremos estimular ou rejeitar? Refazer um mundo talvez seja impossível para a cultura tradicional e niilista que tanto apostou nessa modernidade hoje em crise. Insuspeitamente, provoca-nos Mosé, talvez uma cultura afirmativa e criativa como a brasileira seja a que mais condições tem de se apresentar para essa tarefa de reinvenção do mundo. Por reinvenção entenda-se reinterpretação dos valores e reconhecimento do real. Com filosofia e poesia, a autora propõe uma nova racionalidade, não excludente, mas múltipla, que nos ajude não mais a desejar eliminar toda dor, e sim a vencer o sofrimento pela afirmação da totalidade da vida. Tendo Nietzsche por guia e trazendo para sua companhia outros grandes nomes da história da filosofia, em A espécie que sabe a autora estabelece as bases de uma nova educação que implique a apreensão, a valorização e a fruição estética da vida.André Martins, professor associadodo Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFRJ