O sensível trabalho de Juliana Fernandes obriga a repensar nossas concepções de "pesquisa histórica" e "história indígena". Ao iniciar os diálogos com os indígenas, a pesquisadora, com a escuta refinada de quem tem a dupla formação em História e Psicologia, soube ouvir como provocação a interrogação que lhe devolveram: "Que é isso de ditadura, minha filha?". Então, buscou compreender a ditadura militar brasileira (1964-1988) na perspectiva indígena, com o povo Xakriabá (MG), a partir de um cruzamento entre epistemologias indígenas, historiografia e antropologia. Encontrou (e nos apresenta) uma guerra com temporalidades próprias, analisada em diferentes durações temporais. Uma guerra de resistências, sim, mas também de práticas de existênciae de "fazer mundos", embasadas em sua cosmovisão.