Luiz Ruffato, um dos nossos grandes autores de ficção, apresenta em A mão no fogo sua faceta de ensaísta, propondo um olhar original sobre a história da literatura brasileira — uma história marcada por apagamentos, exclusões e leituras enviesadas. Nesta coleção de textos, escritores como Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Júlia Lopes de Almeida aparecem desafiando convenções e demolindo expectativas, seja por suas posturas políticas ou pela qualidade sui generis de suas obras.No caso de Guimarães Rosa, encontramos um mestre de potência literária incontestável, mas "infértil" na hora de influenciar outros autores. Graciliano Ramos é abordado como um antimodernista por excelência e flagrado durante a escrita do romance São Bernardo, um clássico que foi (em suas palavras) "traduzido para um brasileiro encrencado, muito diferente desse que aparece nos livros da gente". Temos ainda a luta para inserir Lima Barreto no cânone da literatura e o silêncio em torno do mineiro Rosário Fusco, um autor entre o Dostoiévski e o Kafka dos trópicos. E a escritora Júlia Lopes de Almeida é recuperada como uma das vozes mais injustiçadas de nossa tradição literária.Essas histórias, vividas à margem ou à meia-luz, ganham ainda mais força graças à originalidade da escrita de Ruffato, que, como aponta o crítico Pedro Meira Monteiro no prefácio, carrega "um ar de prosa solta" sobre o desenho nem sempre claro da nossa literatura.