Publicado originalmente em 1932, o primeiro livro de Melanie Klein marca um ponto decisivo na história da psicanálise ao sistematizar a técnica da análise do brincar, que a autora desenvolveu especialmente para o tratamento de crianças. Com a introdução do uso de brinquedos como instrumento analítico, Klein estabelece o brincar como equivalente infantil da associação livre e como via de acesso privilegiada ao inconsciente das crianças, consolidando a perspectiva de que é possível fazer psicanálise com crianças - basta respeitar a criança em sua própria linguagem.Klein contrapõe suas descobertas às ideias de Anna Freud, defendendo a interpretação das fantasias desde os primeiros anos de vida e sustentando que os processos inconscientes manifestos no brincar, nos sonhos e nos sintomas infantis podem e devem ser analisados com a mesma seriedade dedicada aos adultos. Demonstra ainda a ineficácia da pedagogia como método terapêutico, afirmando, com base em exemplos clínicos, que a tarefa fundamental do analista - seja de adultos, seja de crianças - é buscar maneiras de compreender o paciente e de se fazer compreender por ele, atentando para sua forma singular de expressão. O livro apresenta também formulações centrais sobre a formação do superego primitivo, a dinâmica entre amor e ódio nas relações de objeto e os mecanismos de defesa arcaicos que estruturam a vida psíquica.Resultado de anos de observação rigorosa e de uma prática clínica inovadora, A psicanálise de crianças lançou as bases da escola kleiniana e redefiniu os rumos da psicanálise infantil no século XX. A obra passou por uma revisão técnica conforme os critérios definidos pelo conselho editorial da Ubu e faz parte das Obras completas de Melanie Klein, publicadas pela Ubu em coedição com a Imago.