Decidi compor, nos vagares deste verão, as memórias da minha vida - que neste século, tão consumido pelas incertezas da inteligência e tão angustiado pelos tormentos do dinheiro, encerra, penso eu e pensa meu cunhado Crispim, uma lição lúcida e forte. Em 1875, nas vésperas de Santo Antônio, uma desilusão de incomparável amargura abalou o meu ser; por esse tempo minha tia, D. Patrocínio das Neves, mandou-me do Campo de Santana, onde morávamos, em romagem a Jerusalém: dentro dessas santas muralhas, testemunhei, miraculosamente, escandalosos sucessos; depois voltei - e uma grande mudança se fez nos meus bens e na minha moral. São estes casos - espaçados e altos numa existência de bacharel como, em campo de erva ceifada, fortes e ramalhosos sobreiros cheios de sol e murmúrio - que quero traçar, com sobriedade e com sinceridade, enquanto no meu telhado voam as andorinhas, e as moitas de cravos vermelhos perfumam o meu pomar.