Este livro, organizado e prefaciado pela escritora e ensaísta Arlete Nogueira da Cruz, torna pública a versão integral, até hoje inédita, do longo ensaio que Franklin de Oliveira dedicou à obra romanesca de Josué Montello. Ao inseri-la no contexto dos desdobramentos literários surgidos no Maranhão e que incluem as contribuições de João Francisco Lisboa, Gonçalves Dias, Odorico Mendes, Sousândrade, Raimundo Correia, Teófilo Dias e Fontoura Xavier, o notável ensaísta examina na obra do romancistaa relação dialética entre o herdado e o novo, cuja origem, como argumenta, encontra-se na saga de São Luís do Maranhão fundada por Aluísio Azevedo. Em seus termos, enquanto Aluísio põe em confronto forças sociais, Josué descreve conflitos morais, ouseja, aprofunda e matiza os reflexos sociais projetados no psiquismo humano."Pela autonomia absoluta que outorga aos personagens, a carga semântica que atribui às situações, a capacidade de dicção, o poder de dizer através da ação e a transparênciaestilística com que organiza o mundo romanesco", a ficção de Josué Montello problematiza o estatuto do narrador, aos seus olhos de exímio crítico, sempre empenhado em conferir à arquitetura interna de seus romances e aos aspectos formais de sua escrita a relevância cultural e humanística das reações do leitor em face da matéria narrativa.Tem-se aqui, portanto, não apenas um esquadrinhamento dos romances de Josué Montello acerca da identidade maranhense perdida na passagem do século XIX para oséculo XX, mas também uma preciosa exemplificação da potência tanto crítica quanto literária de dois autores de uma mesma geração que, forjados nas particularidades políticas, econômicas e sociais desse estado brasileiro, "sonharam os mesmos sonhos", tão logo se aperceberam de sua vocação para o exercício vivo da palavra.