Um dos muitos pontos instigantes dessa coletânea é que ela intenta mobilizar no cenário das escritas sobre aids uma dobra nos já esgarçados discursos produzidos sobre o tema nos espaços-tempo das ciências sociais e da saúde, isto é, ao priorizarmos a recepção de materialidades diversas a coletânea vai tecendo outros fios e "costurando a memória" - como sugere a artista Rosana Paulino em sua aclamada exposição A Costura de Memória (2019) -, de um tempo que já não é mais, mas que não cessa de ser reencenado a partir de uma construção estigmatizante sobre as pessoas que vivem com hiv/aids (PVHA). Esta coletânea de textos (artigos, poemas, ensaios, cartas, memórias, fabulações, exercícios), poderíamos dizer, se apresenta como jornada. Nesse sentido, a chamada de contribuições pretendia ir além de uma revisão das últimas quatro décadas da aids, que foi e ainda será feita a partir de diferentes aproximações ativistas, institucionais, acadêmicas e subjetivas ao tema. A ideia de "capa" no título realiza um jogo semântico com o preservativo, pois "capa" é uma gíria que remete à camisinha. "Sem capa" é também uma expressão referente a uma prática de sexo sem o uso de preservativos (ou bareback), mas a provocação e a ironia aqui referem-se a uma proposta de discussão aberta, sem censuras e limitações temáticas e estéticas.