A figura de Ájax, um dos heróis da Guerra de Troia, tem fascinado o público desde a mais remota Antiguidade. Na Ilíada ele já era retratado como um personagem arcaico, um indômito guerreiro que portava um enorme escudo e eventualmente atirava pedras nos inimigos.Nesta tragédia de Sófocles (496-406 a.C.), um dos pontos altos da dramaturgia mundial, o foco volta-se para a sua derrocada. Após o julgamento que destinou as armas de Aquiles a Odisseu, e não a ele, que tinha sido o responsável por deter as forças troianas na ausência do maior herói grego, Ájax se revolta e decide matar Agamêmnon, Menelau e o próprio Odisseu. Nesse momento intervém a deusa Atena, que faz com que Ájax massacre os rebanhos de seu exército acreditando se tratar do contingente grego.A partir desse evento, Sófocles vai discutir uma das questões centrais de sua época: como as tradições das antigas aristocracias, representadas na peça por Ájax, poderiam ser medidas em face dos novos valores da democracia ateniense? Ou mais amplamente: como as convicções mais profundas de uma sociedade são afetadas pela passagem do tempo?O presente volume, bilíngue, inclui o clássico ensaio de Bernard Knox sobre a tragédia, em que o eminente helenista discute esse e outros temas, e a brilhante tradução de Trajano Vieira, na qual toda a riqueza de registros do texto sofocliano foi recriada com talento e esmero em nossa língua.