Como uma semente que vagou ao vento, Apolinária - ou Polu, para os íntimos - deixou para trás um marido que nunca amou em Tabocas do Brejo Velho, no interior da Bahia, às margens do rio São Francisco, e foi germinar em São Paulo, em 1946. Sozinha, se estabeleceu na periferia da capital paulista e criou dois filhos, trabalhando como servente e empregada doméstica. Viu sua árvore crescer e dar frutos às custas de força e perseverança.Neste romance, que consolida Bianca Santana como uma das principais escritoras brasileiras em atividade, as vozes da neta Bianca e da avó Polu se alternam, conforme a primeira tece com maestria memória familiar e pesquisa histórica, a segunda explora a fina linha que une a família, o dia a dia que sobrepassa o racismo e a ascensão social por meio do trabalho. O resultado é um convite para nos aprofundarmos nas nuances da identidade negra no Brasil.Apolinária também ilumina marcos históricos como a Lei de Terras de 1850 - que privilegiou elites em detrimento de negros libertos e indígenas - e as romarias a Bom Jesus da Lapa - nascidas como agradecimento pelo fim da escravidão em 1888 -, num diálogo com o presente que remete à necessidade urgente de reparação do passado brasileiro.A prosa de Bianca Santana flui como o próprio rio São Francisco que a inspirou, levando o leitor a uma viagem de autoconhecimento e pertença. É a celebração de uma vida que, mesmo diante das intempéries, floresceu em dignidade e amor. Uma leitura que mergulha na memória, dá um abraço na ancestralidade e se torna um farol para as novas gerações.Uma jornada de descoberta de uma história particular que se confunde com a de tantas famílias brasileiras.
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