Ivone escreve com as entranhas. Não faz concessão a conceitos frios, somente àqueles que esquentam o colo da vida, os 'colados' à vida. Que venham os conceitos: Deus, religião...o que essa rede simbólica fala-revela-esconde de nós mesmos? São divertissement do eu superficial ou suspiros do eu profundo? Você faz uma teologia de baixo. Do logos que brota da carne, mais do que o logos que se faz carne. Uma teologia da precariedade, da finitude, das rachaduras. A sua noção de religião como 'filha' das finitudes é isso. É uma religião humana. Criadora, e ao mesmo tempo, criada por esse fundo imaginário que dá sustentação ao fio de algodão doce que é a nossa vida. Você vai cavando e cavando o terreno das nossas finitudes e dali vai nascendo asua filosofia da religião. O adjetivo 'feministas' das 'entranhas de Teresa' é uma espécie de alerta epistemológico que dispara quando o pensamento metafísico - tão naturalizado em nossos corpos - quer entrar na roda de conversas à beira do fogão de lenha da Ivone. Eu 'ouso dizer' - expressão que Ivone repetiu em vários momentos do texto - que até o sequestro que a teologia mística fez da vida de Teresa muitas vezes não foi suficiente para tirá-la da prisão da metafísica teológica patriarcal. Penso que é preciso sequestrar Teresa também de uma certa teologia mística, que a faz tão comportada aos olhos da igreja (...). Assim fui devorando antropofagicamente esse corpo de Cristo que é o corpo da Teresa no frágil corpo da Ivone.