Em Cabra que lambe sal, Letícia Bassit nos apresenta a violência que transita entre o que assusta e o que enoja. Medo e repulsa. Uma espécie de conselho: nenhuma mulher está verdadeiramente segura diante de um homem. Ainda assim, Letícia Bassit não escreve sobre o homem monstruoso, mas sim sobre a mulher que vira bicho. Direcionada ao animalesco, fugitiva, intencional. A mulher em Cabra que lambe sal tem a coroa de chifres que representa seu insistente desejo de soberania. Em sua prosa intensa que divide as páginas com a poesia de pontas rústicas, essa obra nos coloca em escalada íntima, nos leva pela mão como testemunhas da subida que uma mulher - talvez todas - precisa enfrentar para mergulhar nas suas crateras traumáticas, como conquista do que há de mais elevado: a habilidade de transformação. Estamos diante de um livro que vence pela coragem. É impossível abandoná-lo, não somente por sua forma-escrita, não apenas pelo prazer bizarro da leitura que nos arregala os olhos, mas em especial pelas imagens sinceras das vísceras femininas, antes de tudo pela jornada da mulher - talvez todas - que nos crava com interrogações. Afinal, uma mulher pode encontrar sua própria satisfação? Antes do fim de tudo, uma mulher pode gozar a vingança?Jarid Arraes