Nos poemas deste livro, Rafael Mantovani cerca seus cães-fantasma, desenhos de uma identidade espremida contra as coisas que a limitam, incapaz de participar das categorias éticas que conhece, submetida às guinadas dos afetos e humores. O que orientaeste sujeito afetivo é antes de tudo um erotismo bruto e rente ao chão, em que o lírico se tece com o mesmo fio do satírico. O solo onde ele avança são as contingências de uma memória imprecisa - que não quer ou não consegue erguer-se em mitologia pessoal - e o desejo de comunhão (ou ascese) de um misticismo improvisado, construído com o que os caprichos da experiência oferecem. Ao deparar-se com os obstáculos que impedem o acesso ao mundo humano, o eu-cachorro constata: minha burrice me dói /como uma pedra no rosto / como uma pedra em vez do rosto.
Avaliar produto
Preencha seus dados, avalie e clique no botão Avaliar Produto.