"Houve um tempo em que os espetáculos solos, também chamadosmonólogos, eram feitos pelos atores e atrizes mais velhos, como que,no exercício de um direito adquirido pelos anos de dedicação aoteatro em companhia. Por uma série de motivos, que vão desde umaquestão econômica, política, mas também por uma necessidade dedizer, gritar, cantar e afirmar o que sente e pensa, atores bem maisjovens passaram, nos anos mais recentes, a se arriscar nesse salto,sem rede. É o caso de Alexandre Paz, em seu solo Cavalos que, comuma presença cênica envolvente, divide com o público reflexões que,embora pessoais, são também universais, o que torna o espetáculoabsolutamente pertinente e potente. A busca pelo pai, levantandouma série de questões, sem uma necessária resposta e, acima detudo, sem medo dos clichês, dão o tom de honestidade ehumanidade, que, com devido peso e leveza, proporcionam, a cadaum dos presentes, um profundo mergulho, individual, de modo queo espetáculo é, não só um solo na performance do ator, comotambém um solo na fruição de cada expectador, que têm, cada um, apossibilidade de uma inesperada imersão em sua própria história.Por meio da dramaturgia provocativa feita em colaboração comPedro Emanuel, e da generosa direção de Nina da Costa Reis,Alexandre Paz é, não só, esse potro selvagem, solto, sem arreio, emseu redondel, como também seu próprio domador, enquanto opúblico, dentro dessa arena, vivencia esse processo de doma, comoquem se olha num espelho, como filho, ou como pai."