"Para a mentalidade ingênua, a nação é coisa que "já existe", e precisamente enquanto coisa. Está feita, sua realidade é completa, ainda que admitindo-se que sofra modificações ao longo da história. (.) Ora, o que a consciência crítica desvendará é justamente o oposto: é a minha atividade que torna possível a existência da nação. A nação não existe como fato, mas como projeto. Não é o que no presente a comunidade é, mas o que pretende ser, entendendo-se a palavra "pretende" em sentido literal, como ?pre-tender?, tender antecipado para um estado real. (.) A comunidade constitui a nação ao pretender ser, porque é assim que a constitui no projeto de onde deriva a atividade criadora, o trabalho. A nação resulta, pois, de um projeto de comunidade, posto em execução sob a forma de trabalho." Álvaro Vieira Pinto * * * Com a reedição dos dois grandes volumes de "Consciência e realidade nacional", publicados pela primeira vez em 1960 e há muitos anos esgotados, a editora Contraponto prossegue oprojeto de tornar disponíveis ao público leitor brasileiro as principais obras de um dos nossos maiores filósofos. Antes, editamos o inédito "O conceito de tecnologia", também em dois volumes, "A sociologia dos países subdesenvolvidos" e "Ciência eexistência: problemas filosóficos da pesquisa científica". A sequência prosseguirá. Álvaro Vieira Pinto (1909-1987) foi catedrático da Faculdade Nacional de Filosofia da então Universidade do Brasil (hoje UFRJ), professor admiradíssimo por várias gerações de alunos e um dos principais animadores do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), a mais importante entidade envolvida nos debates do ciclo desenvolvimentista nas décadas de 1950 e 1960. Foi para o exílio depois do golpe militar de1964.