*LIVRO VENDIDO NO ESTADO. O livro pode conter pequenas manchas em função da ação do tempo. Não será permitida troca do livro, exceto em caso de defeitos gráficos. O primeiro livro de Frederico Barbosa, rarefato, começa por uma sequencia intitulada "a consciência do zero"; e este acaba com o zero de uma contagem regressiva bastante amarga a propósito da chegada do ano 2000. Não por acaso, é claro. A negatividade percorre a sua obra, manifestando-se como angústia existencial, como asco em relação ao estado da sociedade, mas também (pressentimos) como angústia quanto à fatura. Neste último caso ela tem algo de mallarmaico, como se o poeta soubesse que é preciso escrever, mas que a escrita corre o risco de dar em nada. A consequência é uma crispação traduzida em poemas que parecem as vezes conscientes do seu caráter de tentativa, não mais do que tentativa. Isso é visível sobretudo nos dois primeiros livros, o citado rarefato e nada feito nada, em cujo título revelador a letra o foi expressivamente destacada como zero pelo projeto gráfico. Neles, parece haver um esforço de experimentar que lhes dá por vezes certo ar de exercício. Sob este aspecto, contracorrente é uma alteração muito positiva de curso e uma prova da capacidade de realização pessoal. Aqui o poeta parece estar além da pura experiência e plenamente integrado na sua personalidade poética. Simplificando, é possível dizer que passou do bom ao melhor, e do correto ao criativo, porque conseguiu manter a forca da aventura formal sem deixar que ela desse a impressão de ser sobretudo jogo. E nós sabemos que um dos perigos da poesia, não apenas a de hoje, mas a de todos os tempos, é parecer mais jogo do que instauração. (perigo tanto maior quanto há nela uma indispensável componente lúdica). Ora, Frederico Barbosa instaura, isto é, elabora e torna sugestiva uma realidade que é posta acima do real, mas permanece fundamente marcada por traços pessoais e pelas representações do mundo, de maneira a construir uma visão própria, a partir da auto visão. Para muita gente em nosso tempo, isso cheira a mensagem subordinada a intuitos extra poéticos, mas na verdade é a mais profunda razão de ser da poesia. Neste livro há coragem de falar dó eu e do mundo, mas de maneira que eles apareçam como invenções, não reproduções. Frederico Barbosa é capaz de reinventar, dentro de parâmetros que deixam para trás muitas convenções e lhe permitem faze