Após um hiato de cinco anos, a finalista do Jabuti, Catarina Lins, apresenta agora seu novo trabalho, Correio da noite. Neste livro, a poeta retoma seus procedimentos de montagem, que chamam a atenção da crítica desde a sua primeira publicação, de modo a expandi-los, criando um jogo inédito de imagens entre filmes, fotografias, cartas e mensagens instantâneas, para contar, a alguém, alguma coisa. Essa indeterminação, tanto do destinatário quanto do assunto, nada prejudica a força dos poemas (ouseriam cartas entrecortadas? ou seriam ligações interrompidas?) de Correio da noite, que são eles mesmos interrompidos por uma narrativa em prosa, que aparece também fragmentada ao longo das páginas do livro. O que poderia soar como um hermetismo gratuito, ou um preciosismo da experimentação, no entanto, é estranhamente o que nos leva a um lugar muito reconhecível e, consequentemente, confortável. Isso acontece porque o grande desafio e também objetivo desse projeto, que assim se apresenta, é tentar contornar a promessa interrompida da enunciação, ao entender que toda a linguagem, mesmo que endereçada a um destinatário em silêncio, é sempre compartilhada.