Era um garoto que amava os discos de rock progressivo, um futuro progressivo, a geleia geral que nos formava, aquela coisa toda. Conheci Sérgio no início dos anos 80. Em comum vivíamos tempos de um desejo voraz pelo mundo novo que existia em nossos sonhos, um amor imensurável pela humanidade, as possibilidades do urbano, as coisas musicais e artísticas. O viver era um expressar único, indispensável. Também era nossa uma coragem irresponsável que nos tornava deuses imortais. Sérgio sempre escreveu com a boca aberta, a adorável e afinada voz escancarada, devorando o ar, mastigando as esquinas, as noites boêmias que exalavam notas de saxofone e almíscar. Não há no seu texto placidez que não se desminta, serenidade que não sangre apaixonada. Suas musas vestem e despem seus dias e neles nenhuma paixão é vã. Ele nunca desistiu do amor. "Haveria a possibilidade de um amor à superfície?" - ele pergunta a certa altura. Não sei o que pretende, aonde quer chegar, com tanto amor! Não sabe que vivemos um mundo que aplaude, goza e comemora o ódio, a dor, o desamor? Seu olho prefere compor cenas que miram os pequenos tesouros cotidianos, as "Fidelidades à mesa; café, pão, amor e lembranças penduradas em todas as paredes".