Este livro analisa a cultura musical de Porto Alegre no período pós-abolição, especialmente durante a Primeira República, compreendendo-a como um campo de disputas políticas e como local privilegiado das discussões sobre os direitos de cidadania. A partir das experiências da comunidade negra, a obra examina como as questões de classe e raça influíram na construção de uma cultura musical negra e como a música serviu como meio de mobilidade social por meio de seus diferentes usos e significados. A criação da Banda Municipal de Porto Alegre, em 1925, é tomada como ponto central para analisar as tensões entre a elite letrada, o poder público e setores da comunidade negra. A partir disso, o livro explora as dinâmicas culturais da cidade, observando as interações entre música e sociedade e as disputas simbólicas e materiais em torno do campo musical. Pela análise de associações civis, trajetórias individuais, bandas musicais e grupos teatrais da comunidade negra, a obra aborda como os parâmetros culturais e raciais foram negociados em meio a processos de racializações. Essas manifestações culturais, vinculadas a projetos políticos e formas de visibilidade pública, revelam as diversas leituras e usos da música no cotidiano da comunidade negra. A circulação desses grupos no espaço público e sua integração na vida social da cidade demonstram a importância da música na construção de identidades sociais e de variadas formas de participação política. A obra também examina a profissionalização da música observando as disputas na formação e regulamentação do mercado de trabalho musical, em particular dos músicos negros, analisando as suas complexas estratégias e negociações dentro de um mercado de trabalho heterogêneo, em expansão e altamente competitivo. O livro, assim, apresenta a cultura musical de Porto Alegre como um campo de disputas, em que a música se torna um espaço privilegiado para a negociação de identidades, a reivindicação de direitos, de mobilidade social e de luta política, evidenciando como a música, mais do que uma expressão artística, se tornou um elemento central na construção social e política da cidade.