"Da vida só tenho o fôlego" é o primeiro livro da poeta Vani dos Santos (25/12/1951, 15/05/2021). Mulher negra e proveniente da periferia rural do estado de São Paulo, Vani é desconhecida do público, mas teve uma intensa produção poética, começando aescrever aos 29 anos, quando ficou viúva de seu primeiro marido, até seus últimos meses de vida, quando foi vítima da COVID-19, fruto do atraso da campanha de vacinação no Brasil e do racismo médico . Trazendo em seus versos o olhar e a realidade elaborados sob a perspectiva do que Conceição Evaristo conceitua como "escrevivência" - as escritas poéticas de mulheres negras sobre seus próprios corpos e realidades -, a poeta viveu até os 15 anos em comunidades ribeirinhas, trazendo em sua obra umolhar profundo sobre a periferia rural brasileira. Para dar continuidade aos seus estudos, sua família mudou-se para a periferia de São Vicente em 1966, cidade onde morou até os seus últimos dias de vida. Em São Vicente, Vani concluiu o ensino básico, acessou a universidade, licenciando-se em história, e tornou-se professora concursada do estado de São Paulo, onde lecionou por 25 anos. Com um acervo de mais de 600 poesias, a poeta deixou uma obra inédita que retrata a periferia rural, a desilusão com a igreja evangélica após sua precoce viuvez e uma crítica profunda às questões de classe e raça no Brasil: "Por que tenho que carregar esta roupa suja que não é minha?", pergunta a pequena Vani em uma série de poesias com eu-lírico infantil que compõem o primeiro caderno do livro.