Dalton Paula: O sequestrador de almas apresenta obras do artista plástico, acompanhadas de uma reflexão crítica sobre uma produção que, centrada no corpo negro, faz uma leitura da matriz religiosa afroascendente e da diáspora africana na formação do país. Com texto escrito a quatro mãos por Dalton Paula e a antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz, o livro lança luz sobre a obra desse intérprete visual do Brasil que é expoente de uma geração que vem repensando a arte em um país cuja história e imaginação ainda são predominantemente europeias e coloniais.O volume apresenta as pesquisas - viagens, conversas, fotografias, colagens, diários - realizadas pelo artista para a elaboração de obras criadas em formatos tão diversos quanto a pintura, o desenho, instalações, performances, vídeos, séries fotográficas e objetos. Como um "arqueólogo das coisas", Dalton Paula procura por traços e camadas dessas que são, muitas vezes, histórias interrompidas ou invisíveis. O resultado "é uma pinacoteca de fantasmas da intimidade, que jamais estiveram tão vivos. Um mergulho no tempo dos antepassados, das suas andanças e sabedorias, que restaram como incômoda 'ausência presente' nos objetos que ganham vida no espaço infindo que é o território das relações e da própria memória", escreve Lilia Schwarcz. Trechos"Nos trabalhos de grandes dimensões, o corpo negro é mais uma vez exposto a partir da sua ausência. Dalton estabelece um jogo sagrado e ritual, composto a partir da exposição de peças dispostas e organizadas de forma deslocada daquela mais habitual e esperada. São objetos e veladuras de crochês que ganham camadas de significados. Conforme conta o artista, o copo d'água, recorrente nessa série, aparece ao lado de objetos cortantes, como facas, tesouras e machados submersos nos líquidos ali acumulados. Aqui o sentido é ambivalente, pois se a água representa a limpeza e a cura, a arma branca tem duplo poder letal, uma vez que mata tanto fisicamente como por meio de sua oxidação.""A 'ausência' vai sendo assim construída a partir de uma grande 'presença' simbólica dessas populações, com seus conhecimentos, simpatias, crenças, práticas, costumes e universos religiosos. O resultado é um retrato povoado pelo "'mundo das coisas'; mundo esse que se exprime a partir dos detalhes, das relações e das circunstâncias; 'coisas' que ganham agência a partir do que revelam e de como agem.""No processo de criação artística de Dalton Paula, as rotas que seleciona