Este livro trata de cultura, música e sanfoneiros! É uma obra sobre o Brasil profundo; sobre o Nordeste como lugar de diversidade, resistência e honra da sanfona. O lugar de fala da autora é Senhor do Bonfim, uma cidade-palco que emana cultura do coração do Brasil. De Luiz Gonzaga, Rei do Baião, a Marinês e de Targino Gondim a Lucy Alves, todos os grandes nomes da música oriunda da sanfona já passaram pelos festejos juninos da antiga Vila Nova da Rainha, cidade de serras e de trens que é também a terra natal de Cicinho de Assis, um dos maiores sanfoneiros brasileiros da atualidade. Resultado de uma minuciosa pesquisa de abordagem qualitativa realizada na Universidade Federal da Bahia sobre a representação cultural dos sanfoneiros do município de Senhor do Bonfim, localizado no centro-norte do estado, Leonice Francisca de Souza traz, com rigor e beleza, relatos, vivências e perspectivas dos sanfoneiros deste rincão, que são (ou deveriam ser?) os verdadeiros protagonistas dos festejos juninos. Ao tratar dos seus perfis identitários e discutir suas trajetórias diante das transformações oriundas das inovações culturais, coloca-nos diante de questões importantes da e para a cultura brasileira. Acompanhando uma trajetória que começa nas festas de casa em casa até chegar à comemoração em praça pública, o resultado do trabalho é evidente: a valorização da prática cultural dos sanfoneiros. As ideias da autora dialogam com diversos teóricos, entre eles Hobsbawm (1997), Hall (2000), Burke (2005), Albuquerque Junior (2011), Canclini (2008) e Bakhtin (2010). Entre o local e o global, tradição e contemporaneidade são notadas nas práticas artísticas de sanfoneiros como Eliziário, Zaca do Acordeom, Cicinho de Assis, Seu Tomazinho, Chiquinho da Sanfona, Josa do Acordeom, Nivaldo do Acordeom, Nego da Sanfona, João da Sanfona, Dudu Rodrigues e Tião do Acordeom, além de outras referências igualmente importantes. Esta obra, somada às publicações sobre Circo e Teatro nesta região da Bahia, confirma o sertão como um lugar de produção de conhecimento artístico para o mundo do espetáculo, com sentidos caros à constituição da identidade simbólica do interior do país. Sugiro ao leitor que abra o livro como se tocasse magicamente uma sanfona e deixe o som ecoar livremente no corpo e na alma, num passeio pelas trilhas da cultura sertaneja, sentindo o valor do patrimônio material e imaterial deste país sanfonado chamado Brasil. É hora de abrir o fole! Dr. Reginaldo Carvalho Professo