Não que Édipo nada seja entre nós, mas falta à nossa organização social sua autocrítica: admite-se muito facilmente que nossa sociedade patriarcal e capitalista é o ponto forte do Édipo, uma estrutura que encontraríamos em toda parte. Até uma tentativa tão profunda como a de Lacan para sacudir o jugo de Édipo foi interpretada como um meio inesperado de fazê-lo pesar ainda mais, e de fechá-lo lo sobre o bebê e o esquizo, dizem Deleuze e Guattari em O anti-Édipo. Mesmo tendo posto Édipo em retirada ao apontar a força do campo simbólico sobre a produção inconsciente, o lacanismo não teria logrado estabelecer suficientemente "a identidade de natureza da economia libidinal e da economia social", diz Sibertin-Blanc.Neste livro, Sibertin-Blanc propõe o seguinte: "a singularidade de O anti-Édipo, os problemas precisos que coloca e o esforço teórico para resolvê-los residem na tentativa de atar três linhas de questionamento muito diferentes, até mesmo incompatíveis: uma crítica social de um código familialista de registro dos indivíduos e das condutas; uma crítica, ao mesmo tempo de fora e de dentro da psicanálise, da edipianização do inconsciente; uma críticapolítica das estruturas de exploração e de dominação da sociedade capitalistae dos modos de subjetivação arranjados na reprodução dessas estruturas". Trata-se, então, de "discernir sobre essa base, no seio dessa economia geral, os critérios de distinção dos modos de produção respectivos das formações desejantes e das formações sociais" para liberar, enfim, "as condições sob as quais deve ser concebida a imanência da produção desejante à produção social".