Desordem é a erupção de um vulcão feminino: e espalha sua lava, no texto propositadamente estilhaçado, como suas imagens, não só retrato íntimo de uma mulher, ou de todas as mulheres, como da era contemporânea, com sua riqueza, sua profusão onírica de informação, seus flashes de memória, suas descargas de esperanças, de verdades, amores e frustrações. Ana Cristina Joaquim se propõe em livro a rasgar em infinitos pedaços o cotidiano, o pensamento, a emoção, e ao mesmo tempo colá-los com palavras e imagens, num caldeirão de poesia em que a mágica é sair do outro lado com a experiência da vida. Yates, Herberto Helder, astronautas soviéticos, a mulher aos 13 anos, a "onça fora da selva", Janis Joplin e as rodas da bicicleta. A posição da mulher sobre o homem, a mulher e a mulher diante do homem. Poesia mesclada a fragmentos de memória, ideias, impressões, referências científicas como num ensaio acadêmico, ou um delírio borgiano: tudo forma um conjunto ao mesmo tempo caótico e esclarecedor. Um fluxo de pensamento em que a vida se mistura numa infinita multiplicidade, e que ao mesmo tempo, paradoxalmente, forma uma figura só: a da mulher, unívoca, integral. A beleza da vida está toda em Desordem, para que possamos não admirá-la, mas vivê-la nós mesmos, como loucura, ou salvação.