Quando o metalúrgico Manoel Fiel Filho foi torturado até a morte no DOI-CODI de São Paulo, em 1976, Dom Angélico esteve em Sapopemba para celebrar a missa de sétimo dia e protestou publicamente contra mais um homicídio cometido pela ditadura.Quando um trem de subúrbio se chocou com um ônibus em Arruda Alvim, no extremo leste de São Paulo, em 1977, matando 22 pessoas, Dom Angélico se sentou nos trilhos e jurou que só sairia dali quando as autoridades providenciassem uma cancela para impedir o tráfego de automóveis sempre que o comboio estivesse se aproximando.Quando um juiz decretou a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva e uma multidão cercou o sindicato dos metalúrgicos, em 2018, Dom Angélico esteve lá para celebrar um ato inter-religioso e ainda deu conselhos ao então ex-presidente aquartelado: "Continue a entregar a sua vida à causa da paz, que é fruto de solidariedade, de amor, de verdade, misericórdia e justiça".Dom Angélico era assim, todo coragem, urgência e coração.Em Dom Angélico, um abraço de quebrar os ossos, Camilo Vannuchi traça um perfil envolvente e inspirador de um dos mais corajosos líderes da igreja progressista do Brasil. Coroinha em Saltinho (SP), seminarista em São Carlos (SP) e em Viamão (RS), padre em Ribeirão Preto (SP), bispo auxiliar por vinte e cinco anos na periferia de São Paulo e bispo emérito de Blumenau (SC), Angélico Sândalo Bernardino foi também jornalista, coordenador da pastoral operária e um entusiasmado ativista dos movimentos em prol de moradia, saneamento básico, creches, salários dignos e toda forma de justiça social.Não à toa, seu lema sacerdotal foi sempre "Deus é amor", qualquer que fosse seu cargo ou endereço. "Amai-vos, e não armai-vos", ele costumava dizer, reiterando o mandamento de Jesus, para emendar logo em seguida: "Quem não reza vira bicho, quem não luta vira bicho-preguiça"."Guardo as lembranças do grande amigo, que fez da ternura e da bondade os princípios que guiaram sua vida. Estivemos sempre juntos, do lado da verdade e do bem comum."Luiz Inácio Lula da Silva"Um homem extremamente amoroso e generoso, mesmo quando atacado ou ofendido, e de uma coragem evangélica invejável."Frei Betto"Não tenho palavras para dizer sobre esse pastor, que tanto acreditou nos operários, na época mais difícil da ditadura, sem jamais ter medo, com muita coragem e muita fé."Ana Dias"Dom Angélico foi sempre homem de palavra quente e direta, sabendo o que dizer, como dizer e a quem dizer as coisas mais importantes." Dom Paulo E