Esse livro de Fernanda Freire permite aprender várias coisas ao mesmo tempo, num campo em que aprender é fundamental. Primeiro, que é urgente mudar de posição, teórica ou ideológica, tanto em relação a pessoas com algum tipo de "déficit" quanto em relação à linguagem. Fica óbvio que AF não é um falante qualquer, mas a representação que se pode fazer dele depois desta leitura é certamente diferente da que se faria a partir de informações sobre o acidente que o vitimou. Se está mais lento, nem por isso é incapaz. Ao contrário, surpreende por sua perspicácia, e, principalmente, permite que vejamos com clareza e precisão, como se estivéssemos num laboratório, como a língua funciona de fato: por um lado, seguem-se regras que dizem respeito a sua organização interna, mas, por outro, a língua funciona em quadros sociais, cognitivos e culturais muito específicos. Muitos diagnósticos são simplesmente equivocados se essas dimensões não forem consideradas, como aqui se faz.Mas Fernanda nos ensina também que podemos usar as máquinas. O que a linguagem Logo permite não é apenas verificar se somos capazes de aprender a lidar com ela, mas, principalmente, que ela é ao mesmo tempo a ocasião para um novo aprendizado em contexto, o que é crucial para todos, e ainda mais relevante para sujeitos como AF.