Sem hesitar em contribuir para o debate acerca de questões frequentemente espinhosas no âmbito da literatura negra e sua fortuna teórico-crítica - no caso brasileiro cada vez mais encorpada, felizmente -, e problematizadas a partir de um ponto de vista materialista, Luiz Mauricio Azevedo lança Estética e raça: ensaios sobre a literatura negra, de perspectivas por vezes polêmicas e provocadoras, mas sempre ancoradas em marcada honestidade intelectual e percepção analítica segura sobre os variados ângulos que envolvem a produção de e sobre negros.A obra reúne dezesseis textos de crítica e teoria literárias em que o autor não deixa dúvidas sobre seu engajamento social: "estou casado com a classe trabalhadora negra", e, sobretudo, seu comprometimento com uma crítica literária livre de paternalismos redutores e potencialmente perigosos.Ao tocar em questões candentes como identidade negra na escrita literária, Azevedo não pretende fazer do conceito o único foco da sua intervenção crítica de modo a incensar autores e obras apenas por tal atributo; pretende, ao contrário, discutir a complexidade da vida social e das lutas cotidianas de sujeitos negros e, a partir daí, examinar como tais questões são tratadas esteticamente por autores negros, de Machado de Assis a Jeferson Tenório, passando por Ralph Ellison e Toni Morrison, por exemplo. E, nessa perspectiva dialética, elabora um pensamento crítico que desvela e combate, ao mesmo tempo, o racismo, como também o pensamento antimarxista que parece prevalecer na crítica cultural desta produção. E isso certamente não é pouco.