Este livro tem muitos méritos e não poderia ter sido escrito por um intelectual mais qualificado. Walter Lippold dedicou a sua vida à docência, ao hacktivismo, em defesa do conhecimento livre mas, sobretudo, ao estudo e difusão do pensamento de Frantz Fanon no Brasil. O seu trabalho com o professor Orson Soares junto ao coletivo Fanon disponibilizando textos fanonianos, datam um período em que o nome desse autor ainda não era tão conhecido. Nada mais justo que ele se interessasse, em sua pesquisa seminal, pela relação do revolucionário martinicano Frantz Omar Fanon (1925-1961) com a produção coletiva e circulação de ideias revolucionárias durante a luta de libertação da Argélia. A sua aposta - e veremos que ele tem razão - é que esse processo tem muito mais a ver conosco e com os nossos dias do que possamos imaginar.Mas um livro não se justifica, apenas, pela importância e intenções de seu autor, mas sim pela sua contribuição a determinado campo de saber. É pois exatamente, aqui querepousa o maior dos méritos de Fanon e a Revolução Argelina. Em primeiro lugar, esta obra se distingue pela pouca existência de estudos sobre as lutas de libertação africana no Brasil, sobretudo, em relação à experiência argelina. Como se não bastasse, os poucos estudos existentes focam em intelectuais franceses como Sartre, Beauvoir, Camus, e Bourdieu e não os processos endógenos à própria revolução magrebina. Como será demonstrado brilhantemente por Lippold, no entanto, os acontecimentos por ele estudados foram decisivos para a história passada e recente do Brasil. Em segundo lugar, o estudo se agiganta pela contribuição singular que oferece ao entendimento da vida e obra de Frantz Fanon. Neste caso, pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que o presente trabalho é um divisor de águas aos chamados Estudos Fanonianos.