O verdadeiro legado de Germânia não está na descrição literal das tribos, mas na imagem simbólica de uma sociedade que parecia unir austeridade, coragem e simplicidade - imagem essa que, reinterpretada, acompanhou a Europa ao longo de toda sua formação.Entre todos os aspectos apresentados por Tácito, nenhum exerceu tanta influência quanto o comitatus, o círculo de guerreiros que se reúne em torno do chefe. Ali se condensam valores que atravessariam toda a história européia: lealdade pessoal, honra partilhada, destino comum, coragem diante da morte e a primazia da reputação sobre a sobrevivência, pois a um guerreiro é preferível morrer honradamente, ainda que jovem, a viver uma vida longa na desonra. Este espírito será por séculos o da nobreza européia.Um dos aspectos mais notáveis de Germânia é a idéia de que os germanos se governavam não pela força arbitrária de reis, mas pelo consenso dos homens livres. As assembléias eram momentos decisivos de deliberação política. A autoridade só se consolidava se fosse reconhecida por aqueles que dela dependiam."Os reis são escolhidos por sua nobreza, e os chefes militares, por sua virtude. Os reis não têm poder ilimitado ou arbitrário, e os chefes governam mais pelo exemplo do que pelo mando. Se são ágeis, se se notabilizam, se lideram na linha de frente, então governam pela admiração que inspiram" (cap. VII).