Os poemas aqui selecionados e traduzidos integram a mais recente coletânea de Maddalena Lotter, Atlante di chi non parla, publicada em 2022 pela Editora Aragno, um livro belíssimo que chamou atenção da crítica italiana pela grande sensibilidade da autora em dialogar com as urgências contemporâneas, em especial no que diz respeito à superação da interpretação antropocêntrica da existência, ao colocar o sujeito poético ao lado da ação, mero observador que analisa quase cirurgicamente os nossos mortos, sejam eles humanos, animais ou cetáceos já extintos, que nos precederam ou anteciparam nosso frágil futuro. Diante dessa observação dos fenômenos e das temporalidades numa escala quase mítica, resgatando aquele elemento arcaico da nossa existência no planeta, Lotter dá voz aos que não puderam falar e que são (somos) ameaçados, e devolve, através de uma poesia comovente e humana, a força cristalina da primeira palavra diante do mistério da vida e da morte.