Parodiando textos sagrados, Vilém Flusser faz neste livro um longo elogio do Diabo, "príncipe tão glorioso" que a tantos entusiasmou no decorrer da história humana, em louvor do qual tantos enfrentaram as chamas "com dedicação ardente". Procura suspender os nosso preconceitos a respeito do Diabo para tentar conhecer esse personagem que identificará com a própria História: "É possível a afirmativa de que o tempo começou com o Diabo, que o seu surgir ou a sua queda representam o início do drama dotempo, e que diabo e história sejam dois aspectos do mesmo processo".Chama de "influência divina" tudo o que procure superar ou negar o tempo, e chama de "influência diabólica" tudo o que procure preservar o mundo no tempo. Concebe o divino como aquilo que age dentro do mundo para dissolvê-lo e transformá-lo em puro Ser, logo, em intemporalidade. Por oposição, concebe o diabólico como aquilo que age dentro do mundo para preservá-lo, evitando que seja dissolvido. Do ponto de vista de Deus, o divino é o criador enquanto o diabólico é o aniquilador- mas do ponto de vista do homem no mundo o Diabo é o princípio conservador e Deus o princípio destruidor. Cabe ao Diabo manter o mundo no tempo, o que nos força a simpatizarmos com ele: reconhecemos no Diabo espírito semelhante ao nosso, e talvez tão infeliz quanto o nosso.