A vida cristã requer sempre uma vida espiritual, que para António Coelho, OSB, não pode existir sem a Liturgia. A Igreja convida, por isso, a redescobrir a celebração litúrgica como expressão da autêntica vida espiritual. Neste sentido, exorta a uma contínua renovação e a uma constante formação litúrgicas: «tendo como finalidade favorecer a compreensão do verdadeiro sentido das celebrações da Igreja e ainda uma adequada instrução sobre os ritos, tal formação requer uma autêntica espiritualidade e a educação para vivê-la em plenitude. Por conseguinte, há que promover ainda mais uma verdadeira "mistagogia litúrgica", com a participação activa de todos os fiéis, cada qual segundo as próprias competências, nas acções sagradas, particularmente na Eucaristia» (S. João Paulo II). A Liturgia constitui, deste modo, uma fonte viva para a espiritualidade cristã. A Liturgia está na origem do desenvolvimento e da consumação da própria vida cristã. Esta é a vida segundo o Espírito, coerente com Ele. À Liturgia é dado o lugar de «culmen et fons» (Sacrosanctum Concilium 10) da acção da Igreja. Da mesma Liturgia vêm a santificação dos homens em Cristo e a glorificação de Deus, que constituem a estrutura teândrica da Liturgia, a actuação objectiva do acontecimento salvífico. Podemos dizer que a Liturgia é espiritualidade, ou melhor, a Liturgia é a espiritualidade cristã. A espiritualidade cristã, enquanto tal, não pode ser assim chamada a não ser por via sacramental. Trata-se de realizar na vida o que se celebra na Liturgia. Não é uma espiritualidade cristã, mas é a espiritualidade cristã. A sua qualificação própria é a vida dos cristãos em permanente encontro com Jesus Cristo sob a acção do Espírito Santo. A espiritualidade não se ensina; aprende-se e experimenta-se. À pergunta dos discípulos «onde moras?» (Jo 1,38) Jesus responde «vinde e vede» (Jo 1,39). Esta resposta do Mestre continua a ser um convite permanente para a comunicação plena e o seguimento definitivo de Cristo. Para tal, a Liturgia tem uma comunicação global, verbal e não verbal. A questão da linguagem na Liturgia não é simples discurso com palavras, mas o conjunto de representação, expressão e comunicação. Ela «é a norma pela qual todas as outras vidas espirituais verificarão, sempre e com facilidade, os seus desvios e que lhes servirá de guia seguro para encontrar a via ordinária» (Romano Guardini). À Liturgia atribui-se o termo «lex orandi», que é ao mesmo tempo «lex credendi», na medida em qu