A jovem poeta Priscila Merizzio surpreendeu o leitorado já em sua estreia com Minimoabismo (Patuá, 2014), pela elocução densamente imagética, entranhada de erotismo, o que lhe valeu perfilar-se entre os semifinalistas do Prêmio Oceanos. A obra seguinte, Ardiduras (7Letras, 2016), veio confirmar sua "mescla de delicadeza e violência", como observou o poeta Alberto Bresciani no prefácio. Agora, nos deparamos com esta vasta fala espraiada em poemário oceânico, este O amor embebedou as feras, em quea poeta arranca estilhaços do mundo para compor, de novo, seu patchwork personalíssimo. Opondo-se à "mão do homem bélico" que repele "o caminho do amor", a vox poética se rebela, "arraia alérgica a tudo o que não é o afeto". Movido por um "desejo descabido de existir", o eu lírico se expande - "na nudez das florestas / desabotoo meus emaranhados", e a poesia se deflagra, telúrica, magmática, "tropa de cavalos selvagens galopando no crânio" ou vívida tela de Hieronymus Bosch, povoada por tigres,panteras, anjos e bestas ébrias de amor. De passagem, numes e fantasmas se insinuam nessas visões: Scarlett O'Hara, Sabina Spielrein, Carmen Miranda, Hilda Hilst, Herberto Helder. Mais uma vez, a poeta palmilha com segurança seu território- a linguagem; a língua é sua "agulha de acupuntura, alfinete de vodu". Venha cruzar esta floresta de signos em incessante desassossego. Siga em sintonia com a intensidade desta poética, ciente de que o único alívio é o do "mendigo dormindo seguro na gaveta do necrotério". No entanto, nem a morgue "esfria a cólera dos corpos que se deleitaram com tanta, tanta vida". A poesia vive.
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