Sem medo do paradoxo, o Cristianismo afirma com força e alegria que Deus se fez carne. Não espanta, pois, que os Evangelhos sejam textos que apelam constantemente para os sentidos: Jesus deixa-se tocar, Ele sua, chora, grita, suja-se - e anuncia escandalosamente uma salvação que não renega o corpo, antes o assume. Antonio Spadaro, conhecido jesuíta italiano, particularmente próximo do Papa, propõe neste seu novo livro uma releitura de várias cenas evangélicas, privilegiando o que nelas há de físico, daí extraindo múltiplos tesouros espirituais. Crítico literário, Spadaro mostra possuir, também ele, dotes no manejo da palavra, o que torna mais envolventes as suas reconstruções cinematográficas (os evangelistas são aqui reimaginados como autênticos realizadores) dos episódios que foca. Um livro que convida a um olhar atento, encarnado, sobre passos conhecidos, redescobrindo-lhes o sentido profundo que a familiaridade com eles quiçá empoeirou.