Lutero é, sem sombra de dúvida, um personagem controverso e intrigante. Poderíamos também dizer que é um personagem um tanto misterioso. Se por um lado foi o principal ator e promotor da chamada Reforma Protestante, por outro, quinhentos anos após ter alterado o mapa religioso da Europa e dividido a Cristandade, sua vida, estudos e, sobretudo, seus escritos e discursos são bem pouco conhecidos o que certamente constitui uma das causas que permitem a tão larga difusão e aceitação de seu nome, mesmo entre o clero e os fiéis católicos.Tudo isso faz com que o livro "Lutero" de Frantz Funck-Brentano seja muito oportuno e atual. Sua leitura tornará possível conhecer a origem do jovem universitário que um dia se tornaria, repentinamente, monge agostiniano, as circunstâncias que o levaram a abandonar as práticas de sua Ordem, dos mandamentos e disseminasse um ódio incontrolável ao Papa, ao ponto de defender que Deus age sempre como um louco, assim como as alegações que usou para justificar seu casamento com uma ex-freira quando ele próprio, apenas um ano antes, havia condenado o casamento de padres. Quais seriam as origens da noção que ele formara de Deus? Por que imaginava um Deus cruel, indiferente aos homens que Ele predestinava ao céu ou ao inferno de forma caprichosa?O estudo de Funck-Brentano tem a grande vantagem da imparcialidade. O autor não escreveu o livro para defender ou para atacar Lutero, figura que respeitava. E isso tudo dá a seu relato grande autoridade além lançar luz sobre uma vida agitada, turbulenta e, ainda, pouco conhecida.