O Majestoso vale um trabalho de conclusão de curso, vale até um doutorado, sem dúvida, vale um livro. E o livro chegou, está aqui, nesta rica e detalhada pesquisa de Gabriel Gama. É mais ou menos unânime que Corinthians e Palmeiras fazem o clássicode maior rivalidade em São Paulo, mas como "toda unanimidade é burra", como disse Nelson Rodrigues, me permito discordar e apontar o Majestoso, não o Dérbi, como o de maior antagonismo. Não o faço para ser diferente ou para remar contra a corrente. Sou de família corintiana, Kfouri, por parte de pai, mas também são-paulina, Aidar, que deu dois presidentes ao Tricolor. Afilhado de Adib Aidar, ele era quem mais me levava ao futebol, no Morumbi em construção. Eu, criança, ficava indignado quando, das cadeiras cativas do estádio, ouvia os são-paulinos mandarem os pobres, os alvinegros, tomarem o ônibus para casa quando o Corinthians perdia. Não me conformava também, único corintiano no carrão do padrinho, em não ser poupado das gozações dos adultos na saída do Morumbi. Sempre digo que ali aprendi o que era luta de classes. Só bem mais tarde, por causa de Pablo Forlán, lateral uruguaio de extrema garra que defendeu o São Paulo nos anos 1970, para mim um autêntico corintiano, e, depois, graças ao querido Telê Santana, perder para o Tricolor deixou de ser tão doloroso. Gabriel Gama faz viajar, com precisão, por tempos quase perdidos na memória, para lembrar de jogos que dão a medida do Majestoso. Um clássico para imortalizar osdois adversários, jamais inimigos, porque um não seria tão grande não fosse o outro. Um dia todos o entenderão dessa maneira e o Majestoso será mais Majestoso, ao permitir que os estádios sejam compartilhados pelas cores pretas, brancas e vermelhas.