Nunca foi tão necessário ler estes poemas. Precisamos consumir cultura contra o fascismo. Precisamos nos fortalecer na arte, alimentar a reflexão e acreditar que vamos derrotar essa força contrária à vida. Este livro é indispensável. A suavidade,o lirismo e a leveza dos poemas deste Mar de morros, de Fer Canelas, é como um chacoalhar, um tapa para despertar e, depois, um afago. Quem diria que o horror do fascismo, da necropolítica, do coronavírus pudessem ser abordados com tanta beleza? Nesta luta, a vida vencerá a morte, porque somos resistência. Derrotaremos o vírus com nossa força de vontade, porque "quando lateja / a morte / mas se quer tanto / a vida / dentro do coração", a existência é insistente, e não estamos sozinhos na vontade de acabar com todos esses agentes sinistros. Morro. Morremos. Continuaremos a morrer nesse mar? Aceitaremos a censura e os muros que nos dividem e tentam barrar a pluralidade de ideias, a diversidade de vidas? Continuaremos a ouvir mentiras? Permaneceremos sentados, de olhos fechados, na mira da morte? Ou levantaremos fortalecidos, conscientes da nossa luta? Transformaremos a cidade com o corpo, com nosso afeto. Teimosos, fugiremos da morte, porque queremos "o outro / o mais forte / [queremos] amor.".