Esta é uma biografia que vai muito além dos estreitos limites do gênero. Em suas páginas, constata-se que é resultado de uma admiração que já passou de meio século por Fiodor Mikháilovitch Dostoiévski (1821-1881), o romancista e contista russo. 8). Oautor desta obra, o romancista, contista e cronista Edson Amâncio (1948) recorreu à ficção para tentar traçar alguns ângulos da personalidade de Dostoiévski e daqueles que conviveram com ele, e, além disso, documentou o percurso de sua paixão literária, que teve início em 1962 quando se deparou na biblioteca pública de sua cidade natal, Sacramento, no interior de Minas Gerais, com Recordações da Casa dos Mortos, obra basilar do currículo dostoievskiano. Essa admiração pelo escritor russo aumentou quando o autor, já então estudante de Medicina, passou a ouvir os professores de neurologia citarem Dostoiévski, que sofria de epilepsia e que, por isso mesmo, criou vários personagens que padeciam do mesmo mal, cujo exemplo mais significativo é opríncipe Michkin, do romance O idiota (1869). Depois, já formado, conheceu uma biografia de Dostoiévski e, desde então, nunca deixou de ler os livros do autor russo e ensaios, artigos e outras obras que se referiam a ele. Desde então, sempre que pôde, não deixou de tentar reconstituir o périplo de Dostoiévski pelo mundo, procurando rastros do autor em Paris, Londres, Basel, Dresden, Genebra, Vevey, Florença, Milão, Moscou, São Petersburgo e outros lugares. Viagens que incluíram não só uma visita ao túmulo de Dostoiévski como um encontro com um tataraneto do escritor no Museu Literário-Memorial F. M. Dostoiévski, em São Petersburgo, dia em que, a caminho daquele local, sofreu um acidente no metrô que quase lhe custou a perda da perna direita, que ficara presa entre o vagão e a plataforma, depois de uma queda provocada por um atropelo de uma multidão de usuários. Desse tataraneto de Dostoiévski, Dmitri, o biógrafo- itinerante receberia algumas cópias da correspondência inédita que o escritor trocara com o poeta Apollon Máikov (1821-1897), seu fiel amigo. Na obra, além de passagens registradas ao longo dessa busca de possíveis rastros deixados por Dostoiévski, obviamente, há muitas referências à permanência do escritor na Fortalezade Omsk, na Sibéria, por uma década, ou seja, quatro anos como preso carregando grilhões de cinco quilos de ferro, por delito político de conspiração contra o czar, e outros seis como soldado forçado do exército russo