O leitor tem em mãos a rara oportunidade de varrer a banalidade e deixar de lado o olhar cansado sobre as situações corriqueiras. O cronista, vocação já em extinção, tem o dever de fazer um vendedor de biju conversar com Dostoiévski e de realizar umencontro entre o bandido arrependido e Nosso Senhor nos céus. Sua tarefa é imiscuir a alta cultura no cotidiano, ressuscitar os mortos para conversar com os vivos e levar os vivos ao mundo dos mortos: é uma vocação de Caronte, o barqueiro de Hades. Paulo Briguet não nescreve crônicas. Ele é uma crônica. Anda para cima e para baixo, sempre inquieto e com olhos atentos, em busca de material para levar o carteiro ao inferno de Dante e o poeta Virgílio ao boteco onde tem briga de velho.