Creio que tem razão John Williamson Nevin (1803-1886) - um teólogo do século XIX, grande expoente da Mercersburg Theology - ao escrever que a questão da Eucaristia é uma das mais importantes questões da história das religiões e que, de certo modo,é central em todo o sistema cristão. De facto está na base da própria união viva dos crentes com a pessoa de Cristo, e este grande facto concentra-se particularmente no mistério da Ceia do Senhor.[1] Dispus-me a escrever esta monografia para acrescentar aos estudos sobre a Ceia do Senhor o tema das «Refeições com o Senhor», um sector até agora muito negligenciado mesmo por quem se ocupa das origens da Eucaristia. Para todos, de facto, na origem da Eucaristia está a Última ceia descrita pelos evangelhos sinópticos e por Paulo, que contêm as palavras sacramentais: «Isto é o meu corpo» e respectivamente: «Este é o cálice do meu sangue». O Evangelho de João fala de uma Última ceia de Jesus na iminência da Páscoa mas não se encontram aí citadas as palavras sacramentais. Por este facto conclui-se que o Evangelho de João não conhece a instituição da Eucaristia, ainda que este evangelho tenha muitas referências ao rito eucarístico. Se fala da Eucaristia e não conhece a sua instituição, pode acontecer que a instituição da Eucaristia seja entendida de maneira diferente daquela a que estamos habituados. Veremos isso no capítulo quinto. Por detrás do nosso modo de construir a teologia eucarística, está a ideia de que as palavras sacramentais, acima citadas, são as palavras com as quais Jesus instituiu o sacramento da Eucaristia. Trata-se de uma doutrina que foi amplamente teorizada na Idade Média ocidental quando, por exemplo, Tomás de Aquino estabeleceu que Jesus instituiu a Eucaristia criando a «forma», ou seja, dotando aquelas palavras de uma «força» particular, que as tornasse capazes de consagrar. No capítulo primeiro abordaremos esta doutrina. A propósito do uso do termo «forma», devemos dizer que as antigas liturgias latinas não romanas introduziam a narração da Última ceia afirmando que Jesus tinha transmitido a forma da Eucaristia quando instituiu a «forma do sacrifício».[2] Com o termo «forma», porém, estas antigas famílias litúrgicas entendiam o rito da celebração eucarística e não a «fórmula» da consagração. Esta é, por outro lado, uma concepção que pertence a todas as liturgias antigas, tanto do Oriente como do Ocidente. Ou melhor, esta é a forma arcaica do relato da instituição que só no século IV se to