Nesta aguardada coletânea de contos inéditos, a escritora argentina Samanta Schweblin, um dos maiores nomes da ficção contemporânea latino-americana, reitera seu domínio da narrativa breve com seis histórias que já nascem clássicas. Em todas elas, personagens vulneráveis e profundamente humanas têm suas vidas transformadas de modo irreversível quando confrontadas com situações inquietantes que irrompem onde menos se espera: em plena ordem cotidiana. Discípula de Edgar Allan Poe na arte da construção atmosférica, Schweblin sugere mais do que afirma e, com isso, nos conduz a um clima de alta voltagem premonitória. Ao adentrar seu universo, sabemos que basta um ínfimo detalhe para que a tragédia se anuncie e o familiar se torne estranho, revelando-se toda a fragilidade do nosso pacto com o real. Como afirmou o escritor espanhol Enrique Vila-Matas, "há um antes e depois" da leitura de Schweblin, restando "a lembrança de algo que nunca nos deixará". Os contos dão atenção a personagens que frequentemente não têm espaço na literatura. É o caso dos animais - o coelho em "Bem-vinda à comunidade", ou o cavalo de "Um animal fabuloso" - e das mulheres mais velhas, inesquecíveis, de "William na janela" e "A mulher de Atlántida". Sem sociologizar, Schweblin enfoca os atípicos ("O olho na garganta") e outros aspectos de marginalidades sociais, como as atitudes do rapaz desajustado de "O Todo-Poderoso faz uma visita". Talvez por isso as seis histórias deste livro sejam a um só tempo trágicas e venturosas, permeadas por culpa, solidão e luto, mas também por laços de família, amor e saudade. Através do insólito que desorganiza a vida, tudo se passa conforme o título anuncia: o mal é um bem necessário. Ou, ainda - porque nas narrativas nada é o que parece -, a bondade pode ser maléfica.
Avaliar produto
Preencha seus dados, avalie e clique no botão Avaliar Produto.