Havia em mim uma urgência de falar sobre a floresta amazônica e, mineirade coração, tratei de prosear com pessoas que conhecem a floresta, que sãomeio "árvores" de coração. Assim, a imagem do ipê-amarelo surgiu iluminando caminhos e possibilidades.Pesquisei sobre essa espécie tão solar e conheci o curioso caso ocorridoem Porto Velho, município de Rondônia, de um ipê que, transformado emposte de luz, havia florido novamente, para espanto dos moradores. A forçae a resiliência daquela árvore- determinada em não aceitar o que o destino aimpôs - são o cerne dessa história e sua parte real.Descobri também que próximo a Porto Velho fica a região dos Karitiana,um dos muitos grupos indígenas do estado de Rondônia, no sudoeste daAmazônia brasileira. Hoje, cerca de 450 pessoas estão distribuídas em setealdeias, mas este povo já chegou a ser considerado extinto, em 1957, devidoao declínio preocupante de sua população.1No entanto, conseguiram reverter tal situação com extrema resiliência e, assim como o Ipê desta história,mudaram o curso de seu destino.Diante de fontes tão preciosas, criei uma amizade ficcional entre uma menina indígena, Emilia - um dos nomes dados a crianças pela etnia Karitiana -, eum ipê-amarelo. Compartilhar esta história singular, quase mágica, é para mima possibilidade de dar voz aos seres da floresta, e iluminar forte como um poste apotência da Amazônia e a urgência de se cuidar de toda vida que ela abriga.