Wittgenstein é um dos autores mais cativantes da filosofia do século 20. Seu pensamento é original no sentido mais próprio do termo, e pode-se mesmo dizer que suas duas obras seminais, o Tractatus Logico-Philosophicus e as Investigações filosóficas - que representam, respectivamente, seu pensamento da juventude e da maturidade -, inauguram, cada uma à sua maneira, novos gêneros na história da filosofia. Entre esses dois feitos da escrita filosófica, Wittgenstein nos presenteou com outro clássico sem par, O livro azul.Nele, o leitor conhece o Wittgenstein professor, que tratava os encontros com seus alunos não como meras aulas, mas como ocasiões para a produção de filosofia. É desses encontros que se originou o presente texto. Tendo sido ditado para um pequeno grupo de estudantes em Cambridge e, mais tarde, cuidadosamente revisado e reescrito, o texto circulou, com a permissão de Wittgenstein, em cópias mimeografadas, para um público mais amplo. Até a publicação póstuma das Investigações, tais cópias seriam a principal porta de acesso à nova filosofia wittgensteiniana. Não à toa, essas apostilas encadernadas sob capas azuis moldaram boa parte dos desenvolvimentos posteriores da filosofia analítica.No Livro azul, Wittgenstein introduz ideias absolutamente novas: a concepção de significado como uso, em substituição às teorias referencialistas típicas das filosofias da linguagem a partir de Platão; o inovador conceito de "jogo de linguagem"; o prenúncio de suas "semelhanças de família" e de sua crítica à linguagem privada; a crítica, aliás definitiva, a qualquer possibilidade de articulação do solipsismo. Mas, acima de tudo, o que anima as páginas desta pequena obra-prima é um método revolucionário, um novo modo de pensar que pela primeira vez Wittgenstein oferece ao público leitor, e que mudaria para sempre a história da filosofia.