O manuscrito jovem Gabriel é um romance de uma atualidade que grita. Escrito antes do retrocesso que vivemos agora, sem qualquer espírito jornalístico ou busca de retratar com objetividade o que vivenciamos neste momento, o romance antecipa e inventa, navegando por dramas humanos com grande originalidade, fazendo com que a violência se apresente ora como acerto de contas, ora como modo de vida, ora como puro prazer.O autor retoma aqui ideias de seu romance Um olé em Deus (1997), em que mergulha na essência do matador Davino, ex-militar, que se coloca a serviço de grupos e pessoas poderosas da periferia paulistana. "Homem de bem", trabalhador a serviço da "justiça" (justiceiro) aventureiro, poderoso matador que, apesar da frieza, ainda teme o que faz, teme a vingança dos mortos e o castigo de Deus, mais do que qualquer ameaça terrena. Para se proteger de seus fantasmas, Davino constrói uma Vila, a "Vila do Cabo", onde cada casa, inicialmente, tem as feições de cada um de seus assassinados. Com o passar dos tempos, a vila cresce e se torna uma comunidade pobre e violenta, que mantém viva a "Lenda do Cabo Davino".Neste romance, como sinal dos tempos, a violência é filha do prazer e do exercício do poder. Não por acaso, o jovem Gabriel tem justamente em Cabo Davino seu maior ídolo, e o faz de forma atual, manuseando a história de tal maneira a se isentar da violência por suas próprias mãos, distorcendo e justificando a realidade da brutalidade, manipulando seu jovem amigo César, um ex-hacker, de origem humilde, a exercer a selvageria em seu nome.