O que nos envolve, o primeiro livro de ficção de Maurício Spinola, um romance que se passa em um futuro distópico, é muito mais que uma trama entre dois personagens principais. Conhecemos Madalena e Ivan e é como se em muitos momentos caminhássemos por nós mesmos. Entre os passos costurados pelo autor, encontramos palavras que rabiscam e buscam preencher inquietações demasiadamente humanas, de gente que alerta para os perigos de um regime teocrático ambientado em um amanhã, e que no decorrer da leitura nos coloca em dúvida se já não estamos vivendo esse tempo ficcional hoje, deixando nossos olhares atentos com semelhanças que presenciamos em pequenos pedaços do cotidiano. Percorremos as páginas num ritmo que não nos deixa perceber que as horas passaram. Vagamos por Salvador como os personagens passeiam, buscando existir e sobretudo reagir dentro de um sistema que sufoca as diferenças e sutilezas do ser em nome de um Deus que nunca pediu isso. Com uma escrita que resgata acontecimentos e figuras históricas e os une com pitadas de invenção, imaginação e olhares sobre suas próprias experiências, Maurício nos convida a perder para que possamos achar. Seja uma palavra, algum verso, anseio, possibilidade ou sentido.