No início da década de 1930, Magalhaes Corrêa [1889-1944] mudou-se com a família para um sítio em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade, onde escreveu uma série de reportagens sobre o estado do valioso patrimônio natural local remanescente da Mata Atlântica - solos, rios, lagoas, restingas, dunas, flora, fauna - e sobre a vida sertaneja ainda pulsante a apenas uma hora do centro urbano do Rio de Janeiro - fazendas, igrejas, represas, pontes, estradas, ofícios, técnicas de produção, instrumentos de trabalho etc. Publicadas, entre 1932 e 1933, no Correio da Manhã, as reportagens tornaram-se livro em 1936, lançado como o volume 167 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.O inédito documentário etnográfico e ecológico revelouo abandono da região que, no passado, havia sido grande produtora de açúcar e de café. Seus habitantes, os "sertanejos" - "brasileiros autênticos", na retórica nacionalista do autor -, encontravam-se desamparados, carentes de escolas, assistência médica, saneamento básico e transportes; e a majestosa natureza, que ainda hoje distingue a região, continuava sendo devastada pelas ações imprevidentes dos que a exploravam, como efeito do egoísmo mercantil, do descaso do Estado e da ignorância generalizada.Mais do que um precioso relato sobre esta área hoje importantíssima da cidade, onde estão os bairros das regiões administrativas de Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Cidade de Deus, O Sertão Carioca oferece ao leitor uma avançada compreensão davida social - vida sustentável e harmoniosa -, além de alertar sobre os riscos ecológicos a que a região seria submetida e que, hoje, ainda a ameaçam gravemente.